MANUSCRITOS IV

Deus e a ética

A clássica bicicleta estava encostada no poste em frente ao atelier. Loureiro, o sapateiro amante dos livros de filosofia e dos vinhos tintos, me recebeu com um sorriso sincero e um forte abraço. Sentei-me ao lado do antigo balcão de madeira onde ele costurava o couro de bolsas e sapatos, enquanto alinhava ideias desconcertantes com os amigos que estavam sempre chegando atrás de uma boa conversa regadas a café. Ele colocou uma caneca fumegante à minha frente e começamos a conversar. Comentei que eu dera muita sorte, pois não esperava encontrar a oficina aberta ao final da tarde de um Domingo de Páscoa. Embora os horários de funcionamento fossem famosos por serem inusitados, eu sabia que ele tinha por hábito iniciar o serviço de madrugada, com as estrelas ainda altas, para fechar as portas ao meio-dia. O artesão me explicou que tinha acordado tarde em razão de, na noite anterior, ter ido à Missa Santa na pequena igreja da cidade, realizada à meia-noite, marcando o final da Quaresma. Loureiro contou que era uma cerimônia belíssima, envolvidas em energias muito fortes. Começava com uma grande fogueira no pátio em frente à igreja, quando as pessoas lançavam ao fogo pedaços de papel nos quais tinham escritos situações de suas vidas que desejavam superar. Depois entravam com a igreja toda apagada, iluminada apenas pelas velas que carregavam. Era uma imagem muito bonita. Em seguida as lâmpadas eram acesas e a missa prosseguia. Perguntei se ele também entregara para o fogo queimar algo em sua vida. “Sim”, ele respondeu. Confessei a minha surpresa. Loureiro explicou: “Os mundos visível e invisível estão em constante interação. Tudo que acontece em um lado tem reflexo no outro. O auxílio é indispensável. No entanto, nada acontecerá se eu não fizer a parte que me cabe”.

Questionei se era fundamental participar de um cerimonial para que as modificações existenciais ocorressem. “Acredito que não. Não haverá qualquer ajuda se, ao participar de um rito religioso, nos dias seguintes eu continuar de braços cruzados. O universo acompanha o meu movimento. Sou o maestro da minha vida; a execução da sinfonia aguarda o meu comando e dependerá de como eu a conduzir. Os músicos da orquestra não tocarão ao meu desejo, mas em resposta aos movimentos que eu fizer”.

“Seria absurdo imaginar que espíritos iluminados se alimentariam de papéis queimados. O ritual tem a força de abrir um portal de conexão e firmar um compromisso. Serve também para me lembrar da responsabilidade que naquele momento assumi perante a mim mesmo quanto à minha evolução e honrar a ajuda oferecida. As dificuldades são inerentes à vida; elas me ajudam a eu me tornar uma pessoa melhor. Resolver um problema é superar uma situação existencial, é ir além de onde estou. Isto consiste em percorrer todo um ciclo de aprendizado e transmutação, do início ao fim”. 

“Para tanto é preciso aprender com o problema e transmutar os novos ensinamentos a ponto de ficarem intrínsecos às escolhas do cotidiano; se encantar com os efeitos oriundos de um comportamento diferente e manter a vontade de seguir em frente. Assim aprimoramos a própria essência por expansão de consciência. Toda mudança diferente disto é apenas maquiagem, superficial por esconder as incorreções ao invés de superá-las. Nada muda por fora enquanto não mudar por dentro”. 

“Algumas vezes surgem melhorias em nossas vidas na esfera física. Um bom emprego, um dinheiro inesperado, um romance apaixonado, apenas para ficar com poucos exemplos. Se faz necessário compreender que esses fatos não significam necessariamente uma evolução existencial; algumas vezes se tratam de condições operacionais, seja como auxílio de superação, seja para iniciar uma nova jornada.  As situações do cotidiano nem sempre sinalizam uma obra pronta, às vezes, chegam como ferramentas. Aproveitar exige atenção e virtude”. Fez uma pausa e concluiu: “As ferramentas estão no mundo; a obra, dentro de si”. Bebeu um gole de café e finalizou o raciocínio: “Obra finalizada, seja para o mundo aquilo que o mundo lhe ajudou a ser”.

Falei que esse era o problema. Muitas pessoas atribuem as suas revoltas e insatisfações pelo fato de o mundo não ser um bom lugar para se viver e causa principal dos seus sofrimentos. Reclamam que as pessoas são ruins e isto as tornou amargas. Loureiro deu de ombros, como quem fala o óbvio e disparou um dos ontológicos ensinamentos do Sermão da Montanha: “Quando o seu olho é bom todo o universo é luz”. Bebeu um gole de café e acrescentou: “O mundo muda as suas cores quando aprimoramos o olhar. Enquanto observado por um ego egoísta e dominador que o olha com desejo de conquista, o mundo se mostrará hostil. Ao olhar o mundo com a vontade de estar em comunhão com um mestre que tem muito a ensinar, ele se torna generoso. Nunca ao gosto; sempre à necessidade”. 

Sacudiu a cabeça e disse: “Por equívoco filosófico, além de uma farta dose de comodismo, insistimos em reagir como se o nosso problema existisse por causa do comportamento das outras pessoas. O inferno são os outros, provocava Sartre, um filósofo francês, com evidente bom humor. Ao tentar modificar os outros, sobre os quais não devemos exercer qualquer poder sob o ponto de vista da luz, aumentamos o próprio sofrimento e desperdiçamos a existência. Mudo a mim mesmo ou nada mudará”.

Fomos interrompidos pela chegada de Bernardo, um sobrinho de Loureiro. O jovem tinha discutido com a mãe e estava muito aborrecido. O sapateiro o acolheu com carinho, lhe entregou uma caneca de café e deixou que falasse. Assim como o silêncio tem a sua inegável importância, falar possui grandes valores. Um deles é para que possamos nos ouvir. Há muitas maneiras para entender as nossas dificuldades. A meditação e a oração profundas são bons exemplos. Falar é outra, quando estamos dispostos a nos ouvir. As palavras são mensageiras da alma.

A briga da mãe com o filho era porque ele não queria ir à missa. Dizia que isto o afastava de Deus e, por consequência, o impedia de ser uma boa pessoa. Bernardo se declarou um ateu convicto. Alegava que a ideia de Deus não se sustentava intelectualmente e, pior, sem qualquer respaldo científico. Para ele, em resumo, a crença em qualquer divindade era oriunda de um condicionamento atávico fundamentado na ignorância, no medo e utilizado como ferramenta de dominação de algumas pessoas sobre outras. Ao terminar aguardou pelos comentários do tio. Loureiro desconcertou o sobrinho: “Entendo o seu raciocínio e não tenho argumentos para desmontá-lo”.  Em seguida explicou o seu ponto de vista: “Penso que você não deve ir à missa se não gosta, não se sente bem ou se acha uma bobagem. Isto não o impedirá de ser uma boa pessoa”. 

Atônito, Bernardo questionou a razão de o tio frequentar as missas na igreja da cidade. O sapateiro arqueou os lábios em leve sorriso e disse com jeito maroto: “Por causa do vinho e da conversa. Sou muito amigo do padre. Ele é um homem inteligente e agradável. Vou sempre nas missas de domingo. Ao final, vamos para algum restaurante beber uma garrafa de um bom tinto e trocar ideais enriquecedoras”. Deu uma pausa e arrematou: “Quando estamos com sorte, ainda temos a companhia do Velho, que desce do mosteiro para confraternizar conosco. Confesso que essa é a parte que mais gosto da missa”. Rimos. 

Em seguida, arqueou as sobrancelhas e disse sério: “Vou as missas porque me faz muito bem. As energias movimentadas durante um cerimonial sagrado ajudam a afastar vibrações deletérias que, por descuido em meus pensamentos e sentimentos, possam estar agregadas em mim. Isto é mais comum do que se imagina e nem sempre as percebemos. Apenas a sensação de leveza no sentir e a clareza no pensar que os rituais proporcionam, me permite entender a atuação e a interferência do abstrato no concreto.” 

Bebeu um gole de café e esclareceu: “Claro que não preciso necessariamente ir à missa para me beneficiar das boas energias. O mar é um santuário, as montanhas são catedrais e todos deveriam ter em casa um local sagrado para uma conexão com o sagrado da vida. Em verdade, se eu não encontrar com Deus em meu coração, não o encontrarei em nenhum outro lugar. Somente este encontro me concede o mistério da fé”. Bernardo interrompeu para questionar o mistério da fé. Quis saber se o tio pensava que mero fato de acreditar em uma divindade tornava alguém melhor ou seria possível alcançar uma graça. Loureiro dirimiu a dúvida do jovem: “De jeito nenhum. A fé não é uma crença como muitos acreditam; tampouco, um instrumento de barganha. Em verdade, é o poder incomensurável de sentir e mover a energia cósmica através de mim. Ela constrói a ponte que permite transitar entre o visível e o invisível da vida. A fé é uma virtude conquistada aos poucos. Faz-se necessário um espírito maduro para o exercício da fé”. 

Bernardo quis saber como o tio explicava a existência de Deus. Loureiro foi até aonde era capaz: “Tem algumas coisas na vida que sei que existem porque as sinto de maneira tão verdadeira que me seria absurdo negar. Contudo, tenho dificuldades em traduzir com palavras por ainda não entender toda a dimensão daquilo que a envolve e impulsiona. São maiores do que a minha capacidade de expressão neste momento da existência. Assim como o amor. Relaciono-me com Deus à medida que entendo o amor”. 

Olhou nos olhos do jovem e confessou: “Se você me pedisse para explicar o amor sob o prisma da ciência, eu não seria capaz. Ninguém seria. Mas quem de sã consciência poderá negar o amor?”. 

“Sei da existência do amor por todo bem e pelo poder de transformação que me proporciona, pela luz e proteção que nele me envolvo. Não seria capaz de negar o amor nem mesmo em um ato de loucura. Duvidar do amor seria perder o sentido da vida e me distanciar daquilo que de mais precioso posso ser e oferecer. Mesmo reconhecendo todo o seu valor e poder, pela incomensurável influência que exerce sobre mim, eu não saberia explicar o que é o amor. Não consigo por ainda não entender todo o seu tamanho, força e dimensão”. Olhou para o jovem e disse com sinceridade: “Embora seja a minha maior riqueza, confesso que muito pouco conheço sobre o amor. Dele sei apenas uma pequeníssima parte: quando flui por minhas veias a vida se encanta; quando me afasto dele as minhas entranhas se envenenam. Trago a certeza de que somente através do amor conseguirei me tornar uma pessoa melhor”.

Loureiro fez uma pergunta retórica, sem esperar pela resposta: “Devo negar o amor por não conseguir traduzi-lo em equação matemática? Assim como para muitas pessoas a existência de Deus se mantém no medo, na ignorância e em interesses escusos, poderíamos afirmar que o amor se trata de uma invenção dos poetas, dos sonhadores ou uma ilusão de escape em um mundo de dores renitentes?”.

Bernardo disse que a argumentação do tio não se sustentava. O fato de ele não crer em Deus não significava que não poderia acreditar no amor. O sapateiro esclareceu: “Eu não falei isso. Apenas quis dizer que embora a ciência seja uma inegável aliada da verdade, ainda está anos-luz dela. Não à toa, na Grécia Antiga, berço da filosofia ocidental, há mais de dois milênios, alguns pensadores já buscavam o entendimento para a evolução espiritual através da ética, da estética e da mística.”

Estética? O sobrinho estranhou. Loureiro explicou: “Em sua concepção original, a estética é o encontro com a beleza da vida através da verdade e da pureza que existe dentro de cada pessoa. Um conceito lindíssimo que se perdeu por terem sequestrado a palavra para fins menos nobres ou, se preferir, a estética se tornou mais ligada ao vocabulário da aparência do que da essência na qual se destinava originalmente.” 

O sobrinho se confessou encantado com aquela ideia. Contudo, estranhou o uso da mística para a compreensão da vida. O tio foi pedagógico: “A mística fala sobre o conhecimento da verdade além da ciência. A verdade é a pedra angular do mecanismo para alcançar as plenitudes”. Bernardo interrompeu para questionar como o sapateiro definia a verdade. Loureiro não fugiu à pergunta que atravessa os séculos: “Grosso modo, a verdade é o conhecimento que se tem de si mesmo e o seu reflexo no mundo que o cerca. A verdade se aprofunda à medida da evolução consciencial do indivíduo. É uma viagem intrínseca aplicada extrinsecamente”. Bebeu mais um gole de café e prosseguiu: “A verdade está no âmago do ser; apenas lá. Sem a busca pela verdade ficaremos distantes da liberdade, da paz, da dignidade, do amor e da felicidade. Um encontro ligado à esfera existencial e espiritual, sem qualquer aspecto científico e nenhum viés materialista.” 

“A verdade está inserida no universo desde o início dos tempos; a ciência não. O conhecimento científico avança ao passo dos séculos. Fato que faz com que os sábios percebam muitas coisas antes que os cientistas consigam decifrá-las. Entretanto, a razão de não conseguir explicar algo não valida a sua inexistência”. 

Bernardo indagou se a ciência era inimiga da verdade. O tio negou com veemência: “Claro que não! Ao contrário, a ciência ama a verdade a ponto de buscá-la sem medir esforços. Apenas estão em momentos distintos. Muito das nossas percepções, por ora, somente encontram respostas na mística. Não podemos limitar a evolução espiritual ao avanço da ciência. Aquela serve como incentivadora desta, jamais como uma barreira intransponível. Nas últimas décadas, a psicanálise e a física quântica têm ajudado bastante a unir alguns dos muitos pontos soltos no mosaico do conhecimento humano.”

Loureiro se levantou para fazer mais um pouco de café. Tornou a encher as nossas canecas. Lembrei que o sapateiro falara da estética e da mística, mas não abordara a ética. Eu ouvia a conversa sem dizer nada. Contudo, sabia da sua importância para o entendimento que o tio construíra em si e desejava demonstrar ao sobrinho. Loureiro foi didático: “A ética é o código pessoal de conduta, em parte inato, em parte adquirido ao longo da vida. Nascemos com um instinto natural para o certo e o errado. No entanto, não basta. Evoluímos para um senso apurado em distinguir o bem do mal. A ética são as razões que se aprimoram o indivíduo através do exercício das virtudes. Ética é a espiritualidade aplicada no dia a dia”. 

“O indivíduo pode conviver em um grupo social moralmente corrompido e sob um regime de leis aviltadas por interesses escusos sem se envolver com os equívocos coletivos, pois a ética o manterá afastado das influências nocivas. Em outros casos, ao contrário, pode se locupletar dessas práticas. Porém um desconforto, uma sensação de incompletude o acompanhará. É a voz da sua alma abandonada no vazio da existência. Quando o indivíduo ainda não entende ou nega a luz, a influência das sombras em seu sofrimento lhe servirá como um generoso, porém severo, mestre evolutivo. A ética é a cartilha educativa na qual o individuo se orienta à medida que adequa o seu comportamento à expansão da própria consciência”.

“Na fase inicial, a luz nos chega como um ímpeto ou um raciocínio ainda imaturo. Fortalecemos a luz quando a tornamos um hábito. A ética é este perfeito exercício por estimular as virtudes. A luz se intensifica com as virtudes em germinação que, aos poucos, florescem. Ocorre um aprimoramento no ser. Enquanto isso, a ética será responsável por manter o indivíduo nos trilhos da luz pelo raciocínio e sensatez, nos momentos que lhe faltar amor”.

“A ética molda o meu caráter. O caráter me aproxima do amor. O amor me torna sagrado”.

O jovem pediu para o tio explicar melhor. Loureiro foi generoso: “A ética me permite fazer o bem mesmo quando ainda não tenho o amor necessário para iluminar uma determinada escolha”. Diante do olhar de questionamento do sobrinho, o sapateiro aprofundou: “A todo momento a vida nos coloca diante de complicadas bifurcações. Por não conhecermos a estrada somos assaltados pelas dúvidas inerentes às melhores decisões. Digo sim ou não? Vou por aqui ou por ali?”.

Bernardo lembrou que um dia o tio o ensinou a escolher sempre por amor para não escolher errado.

Loureiro sorriu satisfeito. Aquela era uma verdade insofismável. Porém, traçou algumas considerações filosóficas: “Algumas vezes nos falta amor no momento da escolha. Todos conhecem o amor. Todavia, pouquíssimos sabem de toda a sua extensão, poder e dimensão. O amor é o sentimento mais falado, cantado e comemorado. Apesar da enorme intimidade que temos com o amor, ele ainda é um famoso desconhecido”. E vaticinou: “Estou em sua meninice. Todo amor que hoje sinto não é nem uma milésima parte do amor que um dia serei”.

“Como estou em evolução, a expansão do amor é parte essencial deste processo. Muitas vezes não tenho em mim o amor em dimensão necessária para envolver uma situação específica, capaz de pacificar a minha alma diante de uma questão difícil. Quando não consigo me libertar da dúvida, sofro; isto me impossibilita a felicidade e a paz. Então, como faço? A resposta é simples: ajo com ética”. 

“A ética tem a sua raiz na dignidade, que por definição é tratar os outros como eu gostaria que me tratassem. Contudo, preste atenção, pois a dignidade está conectada ao processo educativo e não a satisfação de meros desejos. A ética não exige que você ame a todos como a si mesmo; isto fica bem mais à frente, está em um estágio mais avançado do amor. Nos momentos sombrios da travessia, quando não encontrar dentro de si o amor necessário à escolha, busque a luz através da ética. Tenha paciência e entenda a infinitude da estrada. Alegre-se com cada passo. Um por vez.”

“Quando sentir em si um deserto árido de afeto, decida através da ética. Isto ajudará a aquietar o coração. Depois, o examine com cuidado. Até o mais bruto dos homens tem ao menos uma única semente perdida desse maravilhoso sentimento, o amor, dentro de si. Encontrar esse ínfimo grão será o bastante para que surja a empatia, para que entenda, ao menos em pequena parte e em uma primeira vez, as aflições e as dificuldades alheias. Utilize as virtudes que estiverem ao seu alcance e se aplicarem ao caso. Seja digno com o outro para que o amor brote em você. A dignidade cria as perfeitas condições para o crescimento do amor. A semente germina, cresce, se transforma em árvore, flor e fruto. Então, esse sentimento alimentará o mundo”.

“Dessa maneira, pouca ou nenhuma importância tem se a pessoa acredita em Deus. Fundamental é o amor. Na falta dele, use a ética em suas relações interpessoais. A ética, em constantes exercícios, amadurece o amor. Um pouco mais a cada dia. Quando amo vivo com Deus em mim; a ética me permite, na ausência do amor, me aproximar de mim. Quando perto de mim, sinto a presença de Deus. No amor somos um só coração; na ética nos damos as mãos”.

“De nada adianta frequentar cerimoniais de qualquer religião sem aplicar as virtudes nas escolhas inerentes ao cotidiano. Nenhuma utilidade terá de incluir Deus no discurso e o excluir das atitudes. Mais próximo está quem, por não acreditar, não fala nele, mas o tem por trás de um gesto. Não sou o que digo, sou o que faço, ensinavam os estoicos”. 

“Não importa se acredito em Deus. Ele, em verdade, se faz presente em qualquer lugar no qual exista a humildade, a simplicidade, a compaixão, a generosidade, a misericórdia, a sinceridade, a delicadeza, a firmeza, a honestidade, a pureza, a justiça, o perdão e, principalmente, o amor. Estas são as manifestações divinas. Seja você um ateu ou um religioso, Deus atua através das virtudes contidas em cada uma das suas escolhas”.

“Simples assim”, o sapateiro deu de ombros. Esvaziou a xícara de café e concluiu: “Através do amor e das demais virtudes, qualquer pessoa se torna sagrada. Quando essa consciência ainda está apenas em semente, use a ética”.

Sobre o balcão repousava um calendário de papel, daqueles que trazem uma imagem ilustrando cada mês do ano. Loureiro pegou uma caneta amarela e desenhou um sol raiando por detrás da foto do mar azul. 

Arqueou os lábios em suave sorriso para finalizar: “A ética é o jardineiro das virtudes para o amor que ainda não floresceu no coração”.

O sobrinho olhou para o relógio. Disse que tinha de ir embora, pois um compromisso o aguardava. Nada mais disse. Entretanto, não era necessário. Os seus olhos levavam um brilho diferente causado pelo encanto daquela tarde. 

11 comments

W.Thel janeiro 17, 2019 at 7:09 am

Há dois dias cruzei mais um ano desta existência, mas acabo de ver q o presente só me foi entregue hj. E esse presente transformou a minha existência, pois me deu um novo norte a seguir. Gratidão por me apresentar a ferramenta da ética enquanto a minha semente do amor não brota!

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Alexandre Gomes da Silva janeiro 17, 2019 at 9:06 am

Essas pessoas são reais? Quem pode me responder.
Se sim, onde as encontro pra conversar?

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Alexandre janeiro 17, 2019 at 9:08 am

Loureiro existe mesmo? É uma pessoa que habita entre nós?

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Rafael janeiro 17, 2019 at 9:39 am

Gratidão Yoskhaz, novamente seus textos maravilhosos respondendo minhas dúvidas existenciais.

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LAEL DOURADO janeiro 17, 2019 at 5:35 pm

MUITO SABIO E ESPIRITUAL ESTE ARTIGO

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Adriana Dinoá janeiro 18, 2019 at 8:43 am

Nosso campo de batalha é no nosso cotidiano,é nele que estão nossas grandes provas.
Colocar em prática os ensinamentos através das virtudes nos aproxima da luz e de Deus.
As virtudes nos leva às plenitudes.
O amor sendo uma virtude nos leva às plenitudes e ao amor em si.,Sendo não só uma das plenitudes mas a principal de todas..
A ciência,ética e mística nos ajuda e nos guia em direção das virtudes e plenitudes que nos levam ao amor incondicional.E ele já existe dentro de nós..
Quero aprender mais Yoskhaz ,com a ciência e com a mística..Com Deus sempre..O caminho é longo mas sei que estou no caminho certo..
Muito obrigada por ajudar a clarear os pensamentos e enxergar a verdade
✨🙏🏻✨

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Joane Faustino Araújo janeiro 19, 2019 at 5:58 am

Gratidão 🌹♥️

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Michelle janeiro 21, 2019 at 7:26 am

❤️🌹

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Eduardo janeiro 26, 2019 at 11:19 pm

Ola yoskhaz gratidão, escreva sempre mais para estimular nossa ética

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Adélia Maria Milani abril 28, 2019 at 10:36 pm

Gratidão! ♡ ☆

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Fernando Machado junho 21, 2019 at 11:42 am

Gratidão profunda e sem fim Yoskhaz, sem fim…

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